Coalizão oferece US$ 100 tri até 2050 para financiar clima

A Aliança global se compromete a financiar transição energética e adaptação do setor produtivo

A maioria dos grandes bancos, investidores, seguradoras e das autoridades financeiras globais aderiu a um
compromisso para incorporar as emissões de carbono as suas decisões mais relevantes.


As instituições e os investidores dizem que ajudarão a financiar uma mudança para reduzir as emissões de carbono
pelas empresas e estimular o crescimento de setores produtivos capazes de contribuir para limitar a mudança climática.
As autoridades reguladoras colocarão em vigor regras para supervisionar a mudança.


A Aliança Financeira de Glasgow por Emissões Líquidas Zero (GFANZ) da Organização das Nações Unidas (ONU) diz que
grupos financeiros com US$ 130 trilhões em ativos se comprometeram com o corte de emissões. Trata-se de uma
escala suficiente para aplicar US$ 100 trilhões até 2050 no financiamento a novas tecnologias e de um alcance suficiente
para impor caminhos a serem adotados por empresas e instituições para se reestruturarem, disse o grupo.

O financiamento, divulgado ontem pelo Enviado da ONU para o Clima, Mark Carney, na COP26 poderá assumir a forma
de empréstimos bancários e de investimentos por empresas de capital de risco, de “private equity”, fundos mútuos e
patrimoniais de gestão de doações e de outros grandes investidores de ações e bônus. Essas fontes encaminharão
recursos para investimentos que contribuam para reduzir as emissões de carbono e ainda obter lucro com a operação.


Reguladores financeiros, como o Federal Reserve (Fed, o BC americano) e o Banco da Inglaterra (o BC britânico),
concordaram em reforçar o sistema com sua própria supervisão por meio de padrões de divulgação de resultados.
“Estas mudanças, essenciais para a canalização de recursos, podem fazer as mudanças climáticas migrarem da periferia
para o primeiro plano, além de transformar o sistema financeiro”, disse Carney, ex-presidente do BC britânico e do
Canadá e que liderou a iniciativa.


“A discrepância entre o que os governos têm e o que o mundo precisa é grande”, para financiar a transição energética,
disse a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, na COP26. “E o setor privado tem de ter um papel maior.”


Yellen disse que os EUA se juntarão ao Reino Unido no apoio a um mecanismo dos mercados de capitais focado no
clima que “contribuirá para atrair recursos financeiros privados para o clima”, o que oferecerá um aporte de US$ 500
milhões ao ano a programas de tecnologia limpa, que inclui acelerar o abandono do carvão.


Enquanto os governos disputam promessas para cortar emissões, isso põe o setor privado na dianteira no
enfrentamento da mudança climática. Embora os acordos sejam voluntários, eles são mais específicos e mais
transformadores, além de incluir compromissos financeiros que os governos relutam em assumir.
Mas para cumprir o compromisso, os executivos financeiros reconhecem que precisarão de mais coesão
governamental mundial em torno da regulamentação.
“Será difícil alcançar esses compromissos sem os governos [assumirem papel] significativo”, disse Joseph Amato,
presidente e diretor financeiro da gestora de investimentos Neuberger Berman, que administra US$ 430 bilhões e é
parte do grupo Emissões Líquidas Zero. “Haverá muita política local que vai afetar o ritmo.”

Os planos privados estão longe de ser concretos. Nem todas as empresas que aderiram adotam a mesma urgência em
termos de execução. Poucos bancos ou investidores nem sequer compreendem seu atual impacto ambiental. (Com
Simon Clark e Sha Hua)

Publicado em 04/11/2021 no Valor: www.valor.com